O isolamento social colocou as empresas do varejo em xeque. Afinal, é possível sobreviver sem movimentação de clientes nas lojas? Empresas que se anteciparam e passaram por um processo de transformação digital conseguiram se adaptar melhor. Outras ficaram reféns da situação com a loja fechada e passando por dificuldades financeiras.
Seja qual for a sua situação, há bastante trabalho a ser feito. Portas fechadas não precisam significar ociosidade. Você pode aproveitar para fazer um planejamento estratégico que vem adiando há meses, colocar as contas na mesa, traçar um plano de recuperação, redesenhar processos, adotar medidas de segurança sanitária e se preparar para a volta do consumo presencial.
Separamos algumas atividades que sua empresa pode desempenhar enquanto a loja permanece fechada para circulação de clientes — ou permite circulação reduzida, de acordo com a legislação do seu estado ou município. Confira a seguir.
1. Mapeamento do estoque
Já falamos bastante sobre estoque aqui no blog e sempre voltamos ao assunto porque trata-se de uma atividade vital para a empresa. Sem uma política — ou estratégia — de estoque eficaz, sua empresa perderá dinheiro sem saber como.
Uma loja de autopeças, por exemplo, precisa ter pneus, pastilhas de freio, calotas e outros itens de substituição no estoque. Mas quais são as marcas e modelos que mais saem? Se a maior parte dos seus clientes tem carros populares 1.0, faz sentido guardar peças de modelos de ponta, como BMW ou Audi?
Além de ser improdutivo, um estoque mal gerenciado gera custos porque toma espaço na loja. E esse espaço tem seu custo expresso no preço do aluguel por metro quadrado. Já começou a fazer as contas? Em Belo Horizonte, o preço médio do m² para aluguel comercial de imóveis é de R$ 29,7. Os produtos que ocupam esse m² dão retorno ou ficam lá, parados, sem previsão de venda?
A primeira medida para gerenciar melhor seu estoque é conhecer o seu público consumidor e analisar quais produtos têm maior giro. Há variações sazonais e vendas pontuais resultantes de liquidações, mas analise a média anual para ter uma noção exata do que precisa. Se você usa um software ERP, essa tarefa é fácil.
Nesse ponto, também é importante ficar antenado com os modelos mais novos dos produtos, os preços e condições dos fornecedores e o apelo aos consumidores.
Para saber quais são os produtos com maior giro, os que geram mais lucros para a loja e os que fazem parte do mix porém não vendem muito, uma metodologia bastante eficaz é a Curva ABC.
Ela se baseia no princípio de Pareto, que diz que 20% das causas geram 80% dos efeitos. Ou seja, poucos produtos respondem pela maior parte do faturamento.
Você vai dividir os itens em 3 categorias (A, B e C). Numa planilha, crie 6 colunas com: código, nome, quantidade vendida nos últimos 12 meses, valor individual, valor total (preço do item multiplicado pela quantidade vendida) e porcentagem do faturamento em relação ao total. A partir daí, liste os produtos, seus valores e faça as contas.
Some as maiores porcentagens até chegar a 80% ou um valor aproximado. Os produtos que respondem por essa parcela fazem parte da Categoria A. Continue a somatória: os produtos com porcentagens acumuladas entre 80% e 95% (15% das receitas) fazem parte da Categoria B. Perfazendo os 100% (5% das receitas), estão os da Categoria C.
Essa metodologia leva em conta não apenas o volume de vendas, mas também o faturamento, o que é bem importante na hora de elaborar a estratégia de armazenamento.
2. Reorganização do layout da loja
Sabe aquela arrumação que deveria ter sido feita há tempos? A expansão do ambiente físico para dar mais comodidade aos clientes e melhorar a circulação? A modernização do mostruário?
Embora isso fosse impraticável há três meses, hoje existe uma folga maior para esses ajustes. Não se trata apenas de decoração: o visual merchandising é um dos pilares do marketing de varejo. É por meio dele que você captura a atenção do seu cliente e consegue fechar mais vendas, aumentar o tíquete médio e oferecer uma experiência melhor de compra.
Além disso, o visual merchandising proporciona um melhor reconhecimento da sua marca, o que faz com que o cliente compre mais vezes. Com o aumento dos pedidos via delivery, essa identificação deve ser facilitada no design das embalagens e ações em redes sociais. Quando o varejo reabrir com segurança, o layout da sua loja precisa corresponder à maneira como você quer que os consumidores percebam sua marca.
Portanto, aproveite o momento para realizar mudanças físicas na loja, planejar a exposição dos produtos nas gôndolas e na frente de caixa e padronizar etiquetas, embalagens e cartazes — tudo o que possa ter impacto visual.
3. Criar presença digital
Muitos só perceberam agora, mas uma estratégia de vendas online é crucial para a sobrevivência do varejo durante o isolamento social. Antes, já existia uma tendência nesse sentido; a crise sanitária precipitou as mudanças e ter presença digital a partir de então é imprescindível.
É comum confundir presença digital com ter uma página no Instagram, um canal no WhatsApp e criar uma loja virtual em um marketplace. Não é bem assim.
Presença digital é o conjunto de estratégias de comunicação e marketing voltados para os meios online, alinhando o diálogo com os clientes aos valores e produtos da marca. Na internet, sua loja não é uma loja, mas uma pessoa que vende para outras pessoas e se relaciona com elas.
Se você não se sente seguro nem quer fazer as coisas de um jeito atrapalhado, estude um pouco mais e desenvolva uma linha de conteúdos — imagens, textos informativos, vídeos — para atrair seus clientes.
Analise também quais investimentos devem ser feitos. É necessário desenvolver um site completo com e-commerce do zero? As soluções de pagamentos já utilizadas na empresa servem para as compras online? O ERP pode ser integrado à loja virtual?
Outro aspecto relevante é manter atualizada as informações da sua empresa no Google Meu Negócio. É uma ferramenta gratuita que ajuda a posicionar sua organização no mecanismo de buscas do Google, fornecendo dados como telefone, endereço, horários de funcionamento, fotos e avaliações de outros clientes.
Por fim, tenha canais de atendimento funcionais. Se você recebe pedidos de orçamento pelo direct do Instagram, responda pelo mesmo canal. Se chegam perguntas pelo WhatsApp, conclua o atendimento pelo WhatsApp. Algumas empresas usam ferramentas de chat integradas ao site e chatbots, mas a lógica é a mesma para todos os meios de comunicação.
Lembre-se: é importante que a presença digital do seu negócio tenha tanta importância estratégica quanto a presença física.
4. Fortaleça os laços com seus fornecedores
Todos entendem — ou devem entender — que a crise atual foi totalmente imprevisível e pode ter consequências ainda mais desastrosas. Sendo assim, a prioridade deve ser salvar vidas, cuidar da saúde e manter as empresas funcionando para que as pessoas não percam suas fontes de renda.
Por isso, é importante negociar valores e prazos com os fornecedores para reduzir custos e manter as operações. Por exemplo, como o volume de vendas teve uma queda, é natural que os pedidos sejam feitos em menor quantidade, o que empurra os preços para cima. Tente convencer o fornecedor a manter o preço, ofereça uma contrapartida futura e mantenha o bom relacionamento.
Aluguéis representam uma parte considerável das despesas. Embora seja difícil conseguir uma isenção completa com o dono do ponto, na negociação você pode argumentar que o mercado imobiliário também sofre com a crise. É melhor ter um inquilino que paga pontualmente um valor abaixo do de mercado a ter um imóvel desocupado.
Para concluir, veja quais impostos tiveram seus prazos adiados. Microempreendedores Individuais, por exemplo, já obtiveram o benefício do adiamento de algumas parcelas do DAS. Converse com seu contador e estude quais tributos podem ser pagos depois, conforme as condições do seu estado e município.
Loja parada não pode ser loja improdutiva. Com ou sem crise, as pessoas continuam fazendo negócios. Portanto, mantenha sua loja bem posicionada, seja ainda mais cuidadoso com o fluxo de caixa e direcione esforços para ações que podem trazer resultados mesmo com pouca ou nenhuma circulação de clientes na loja física.