É muito comum o pequeno empresário confundir as despesas pessoais com as contas do negócio, principalmente no início do empreendimento.
“O erro já começa na abertura da empresa”, afirma Márcio Iavelberg, sócio da Blue Numbers, consultoria financeira especializada em pequenas e médias empresas. “Sem ter ainda o negócio estruturado, o pequeno empresário vai abrindo a empresa ‘mais ou menos formal e informal’, de um jeito embaralhado. Faz o contrato de aluguel em nome da pessoa física ou compra materiais de escritório com o cartão de crédito pessoal”, exemplifica.
De acordo com o consultor, pequenos empresários do setor industrial já o procuraram porque enxergavam que o negócio não parecia saudável.
“Quando fomos vasculhar, os gastos na pessoa física eram muitos elevados. E isso não acontece só com microempresa, pode ocorrer com pequenas e médias também”, diz Iavelberg.
Ele conta que muitas empresas, mesmo quando crescem, continuam atuando como se fossem negócios de fundo de quintal. A prática ocorre nos diferentes segmentos, de prestadores de serviços a pequenos comércios. “Independe do setor”, enfatiza.
Misturar as contas pode levar a sérios prejuízos financeiros se esse problema não for observado a tempo.
“O próprio empreendedor começa a enxergar que essa prática está prejudicando o resultado da empresa”, diz Diego Báez, sócio-executivo da Heartman House, consultoria que atua na reestruturação de negócios.
O primeiro passo para a empresa ter uma gestão profissional é separar as entidades família e negócio. “É um trabalho delicado, que exige preparação emocional”, aponta. Em seguida, ocorre a blindagem do patrimônio familiar, o que significa proteger os bens da família contra eventuais crises na empresa.
“Ao estruturar o negócio, um erro tradicional é incluir bens pessoais como garantia caso a empresa vá à falência”, alerta Ricarro Fairbanks Cacciaguerra, sócio da Dinheiro em Foco, consultoria financeira que atende pequenos empresários e pessoas físicas. Ao proteger o patrimônio legalmente, o imóvel da família, por exemplo, fica imune caso o empreendimento quebre.
“É importante ter certeza de que o patrimônio não será afetado”, diz Báez.
Como o trabalho de blindagem patrimonial envolve uma série de instrumentos legais, deve contar com respaldo de advogados das áreas tributária e societária, além de um profissional especializado em direito de família.
Mais um exemplo clássico de confusão entre as finanças pessoais e a vida financeira da empresa é aproveitar a elevação do faturamento para comprar casa, carro e outros bens pessoais. “Quando o negócio vai bem, [os empresários] costumam confundir faturamento com lucro”, diz Fairbanks. O aparente bom resultado leva ao consumo familiar, o que pode provocar endividamento se não houver controle das contas pessoais. “Já ouvi várias vezes empresários dizendo: ‘Eu não sei por que tenho tantos problemas financeiros se minha empresa é altamente lucrativa'”, afirma o consultor. Nesse caso, o erro pode ser conceitual. Vale lembrar que faturamento é o total arrecadado pela empresa ao longo de um período. Trata-se da receita obtida. Já o lucro é apurado após a dedução das despesas.
Feita a apuração do lucro, o empresário recebe o pró-labore, sua retirada mensal definida no contrato social da empresa. Mas é importante que essa remuneração seja encarada como um custo. “É algo que ele está deixando de ganhar. É como se estivesse vendendo a força de trabalho a si mesmo”, afirma Fairbanks. Então, se o lucro aumentar, o pró-labore também pode ter reajuste? Depende do momento e das necessidades da empresa, de acordo com os especialistas. A recomendação, principalmente no início do negócio, é usar todo e qualquer resultado positivo como reinvestimento na própria empresa.
Imprevistos acontecem, mas situações inesperadas, principalmente as que demandam dinheiro, podem ser encaradas com reservas emergenciais. Isso vale tanto para a administração do negócio quanto para a organização das finanças pessoais. “É muito comum o empreendedor colocar todo o dinheiro na empresa e não fazer reserva financeira pessoal. Com frequência, empresários procuram orientação porque, depois de 30 anos, perderam tudo”, diz Fairbanks. Aqui se aplica a máxima das aplicações financeiras: não coloque todos os ovos na mesma cesta. Não é recomendável apostar todas as fichas na abertura de uma empresa; tenha outros investimentos. Se o negócio não prosperar, por exemplo, é possível garantir fôlego financeiro para buscar novas oportunidades.
Fonte: Diário do Comércio – SP